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Babel

Após os exuberantes Amores Brutos e 21 Gramas o nome de Alejandro González-Iñárritu ganhou visibilidade no meio cinematográfico e seu mais recente filme, Babel, foi aguardado com enorme expectativa. Expectativa que se frustra, embora Iñárritu tenha realizado um bom filme. Mas convenhamos, se esperava muito mais.

Babel é uma interessante análise das dificuldades que o homem possui com relação à comunicação, sobretudo à multiplicidade de idiomas pelo mundo. Entretanto, mesmo diante de línguas diferentes os homens incrivelmente conseguem estabelecer algum padrão de comunicação, cito como exemplo os gestos e as mímicas. Em Babel os personagens que falam inglês, espanhol, japonês, árabe e até berbere [um dos idiomas de Marrocos] estão diante de um problema de comunicação que vai além do idioma, e que atualmente ganha a cada dia mais voz e sonoridade – o preconceito. Iñárritu montou uma trama densa e um tanto quanto desajustada para nos dizer: o que impede de nos entendermos não é o idioma, mas sim nosso preconceito.

[O texto crítico abaixo cita dados da trama.
Desaconselhável para quem ainda não viu ao filme]

Só pela mensagem o filme é obra obrigatória para análise e reflexão. O ritmo lento e algumas cenas dispensáveis [o helicóptero que carrega Susan (Cate Blanchett) até o hospital e o garoto marroquino espiando a irmã nua] podem tornar a experiência cinematográfica um pouco enfadonha. Entretanto, a sub-trama envolvendo a garota japonesa surda-muda Chieko (Rinko Kikuchi), garante nosso voto de confiança durante a exibição.

Iñárritu tocou em um assunto muito denso e se perdeu. Fica evidente o “preconceito” nas estórias da fronteira México e EUA e no resgate da cidadã americana alvejada por um tiro em Marrocos. Mas faltou a magia que há em abundância na estória da japonesa surda-muda. A cena de Chieko tentando dançar em uma boite, mesmo sem escutar uma nota se quer da música, é angustiante e comovente. A atuação de Rinko Kikuchi é o ponto alto do filme, e merecidamente lhe valeu uma indicação ao Oscar. Outro ponto forte é a trilha sonora de Gustavo Santaolalla (Diários de Motocicleta e O Segredo de BrokeBack Mountain), que ambienta com primor a região de cada personagem. Há na trilha uma carga emocional muito bem distribuída.

Babel peca em pequenas cenas que acabam conferindo uma certa artificialidade ao longa. Os americanos, companheiros de viagem de Richard (Brad Pitt) e Susan, demonstram um medo excessivo por terroristas. Se tens medo de terrorista, por que viajar por um país de maioria árabe, e que não anda muito satisfeita com os yankees? Faltou sutileza. O mesmo acontece com a governanta mexicana Amélia (Adriana Barraza), que deixa as crianças no deserto sozinhas. Nem no desespero se toma uma atitude dessa. Mas o maior deslize do longa é a resolução branda, e demasiadamente feliz, de cada sub-trama. Em um mundo permeado de preconceitos, e que eles geram atrocidades como foram o genocídio nazista e os ataques de 11 de setembro, Iñárritu deu a Babel um final bonzinho até demais. Soa muito estranho, se pensarmos que ele é o mesmo diretor do pungente Amores Brutos.

Babel é um bom filme, mas que poderia ser melhor. Uma discussão interessante e fundamental para a atualidade, mas que merecia, no mínimo, de mais seis meses debruçado sobre o roteiro.


Babel (Babel - 2006)
Direção: Alejandro González-Iñárritu
Elenco: Cate Blanchett, Brad Pitt, Gael García Bernal, Jamie McBride, Kôji Yakusho, Lynsey Beauchamp, Nathan Gamble, Adriana Barraza, Elle Fanning, Rinko Kikuchi, Aaron D. Spears, Boubker Ait El Caid, Said Tarchani, Clifton Collins Jr., Michael Pena, Jamie McBride.

Gilvan Marçal - gilvan@gmail.com

2 comentários:

  1. é um filme que vale a pena ver. O enredo fala muito das relaçoes entre os paises, dos preconceitos, da miseria de alguns e encara a realidade com olhos criticos. A atriz japonesa foi excelnete no filme, principalmente pq teve que se despir de pudores e ficar nua. Isso foi algo que achei desnecessario, Se fosse um seio apenas, mas foi tudo, até a xoxota. Ficou um pouco fora do contexto

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  2. Discordo em algumas coisas que foram ditas no texto da crítica acima. Em primeiro lugar: não há nada de bonzinho no final de nenhuma estória, nada de feliz e muito menos "demasiadamente feliz". Todos pagam por uma certa incompatibilidade sócio-cultural e conseqüentemente comunicativa evidenciada realmente pelo preconceito. Branda só há a música, o resto é ranger de dentes e desesperança. Também não vejo problemas de verossimilhanças como foram citados os casos da babá Amélia e do casal em viagem. No mais, lindo o filme: incisivo sem abandonar sutilezas.

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