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Sound City

O líder do Foo Fighters e baterista do Nirvana não só é um apaixonado pela música que faz, mas também por tudo que envolve essa forma de arte, simples e bem popular. Nesse fenomenal documentário, Grohl conta a história do Estúdio Sound City, na Califórnia, que dentre dezenas de obras primas que foram gravadas lá está o revolucionário Nervermind, do Nirvana. Mas o baterista, agora diretor, não quer falar sobre o umbigo dele, mas sobre a importância desse templo para a música americana e como a revolução digital tem trazido um gosto amargo para a beleza e a forma de se fazer música.

Sound City começa despretensioso, em um ritmo tranquilo ao acompanhar Grohl e seus relatos sobre o estúdio. Gradativamente fui me espantando com os artistas e álbuns que foram produzidos nesse local. A formação clássica do Fleetwood Mac começou lá. Discos memoráveis nasceram ali, como de Neil Young, Tom Petty and the Heartbreakers, Dio, Nirvana, Blind Melon, Rage Agains The Machine, Tool, Queens of Stone Age e Nine Inch Nails. O filme vai captando a impressão de cada um desses artistas sobre o estúdio, a maneira como a canção era extraída lá dentro e como isso impactou na maneira com que eles fazem música.

O documentário ainda tem uma abordagem mais técnica ao mostrar o que tornava o Sound City diferente dos demais estúdios. Eles tinham uma mesa de som chamada Neve 2028, na qual só foram feitas quatro no mundo. Essa mesa analógica tornava o som muito mais fidedigno ao real do que as outras mesas da época. Resumindo, não havia nenhum outro lugar nos EUA em que o som da bateria ficasse tão verossímil e forte. Essa era a razão dos produtores idolatrarem o Sound City. Contudo, o lugar era quase um chiqueiro. Feio, mal cuidado, desconfortável, sujo, entre outros adjetivos negativos. Nem sempre uma grande estrela do rock suportava ficar por dias nesse calabouço fazendo música. Quem aguentava, sabia que desse antro saíram discos viscerais e orgânicos que marcaram a história do rock.

Grohl debate ainda que esse modo orgânico e cru de fazer música acabou cedendo espaço para revolução digital e suas ferramentas de informática, em que hoje, um artista que desafina durante a gravação pode ter a afinação corrigida. Basta clicar aqui e arrastar até ali. Pronto, está aí mais um sucesso pasteurizado do Black Eyed Peas. O Sound City primava pelo processo caseiro de fazer música. Você pluga o equipamento, se junta com alguns outros músicos e labuta até encontrar a canção que deseja. Essa é uma ótima discussão que ganha ainda mais peso com a presença de Trent Reznor, líder do Nine Inch Nails, que sempre usou a tecnologia em suas músicas, mas não abriu mão de gravar diversos álbuns nesse estúdio. A entrevista de Neil Young é imprescindível para quem toca ou deseja ter um banda.

Só esse relato já faz de Sound City um filme memorável e fundamental para quem gosta de música e deseja compreender um pedacinho dessa história. Mas o grand finale de Dave Grohl é espetacular. Quando as coisas têm que dar certo, o planeta acaba conspirando a favor. Com a iminente falência do estúdio Sound City, em 2011, Grohl não pensou duas vezes e comprou a tal mesa de som Neve 2028 e instalou em seu estúdio. Diante desse ciclo de nascimento, esplendor e morte do Sound City, o líder do Foo Fighters termina sua narrativa com um ode ao estúdio, convidando diversos artistas a gravarem novamente nessa atmosfera analógica, crua e simples. Esse trabalho foi registrado em um álbum chamado Sound City - Real to Reel.

Não acabou, tem mais. Não bastasse Grohl realizar um projeto tão interessante e impactante (filme e álbum), salvar essa relíquia de mesa de som, ele consegue finalizar o documentário com uma beleza esplêndida e tocante. O jovem e frenético baterista do Nirvana só chegou onde está hoje, segundo ele, graças àquele estúdio, em que foi concebido o Nervemind. Todo esse sonho de ser músico, de fazer canções e tocar as pessoas que escutam só começou graças aos Beatles. Novamente, quando as coisas tem que dar certo, o planeta conspira a favor. Grohl convida Paul McCartney para gravar e ele aceita. A sequência da gravação com Paul é algo quase mágico. Paul na guitarra, Krist Novoselic no baixo e Grohl na bateria. Diante daquele acontecimento histórico e marcante para a vida de Dave Grohl, ele diz: "Parecia o Nirvana de novo". Fica nítido nas expressões de Grohl que aquilo tudo era um grande e lindo sonho. Uma sensação inigualável. Algo que os orientais chamam de Nirvana.

Sound City é um filme obrigatório para quem ama música.



Sound City (2013)
Direção: David Grohl
http://www.imdb.com/title/tt2306745/

Gilvan Marçal - gilvan@gmail.com
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