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12 Anos de Escravidão

O cinema sempre teve muita dificuldade para olhar e refletir para uma das passagens mais sombrias da história recente da humanidade - a escravidão dos negros. Subjugar um povo ou uma etnia considerada inferior é algo recorrente há milhares de anos, mas nada é tão doloroso e vergonhoso sobre o que fizemos com os negros há pouco mais de 100 anos atrás, cujo impacto ainda é perceptível socialmente até hoje.

Escravidão é um tema incômodo e delicado, que ano passado ganhou uma boa abordagem com o filme Lincoln, contudo numa visão um tanto branca demais. 12 Anos de Escravidão não é só um olhar negro sobre o que de fato foi essa triste passagem da humanidade, mas também funciona como um espelho, afinal, naquela época era culturalmente correto ter escravos e chicotea-los como reprimenda. Se eu estivesse lá, eu faria o mesmo. A pergunta que fica é: será que hoje eu faço algo que é culturalmente bem aceito, mas é errado do ponto de vista humano? A história dirá aos meus netos.

Dirigido pelo ótimo Steve McQueen, cujos outros dois filmes de sua carreira são essenciais (Fome e Shame), ele consegue captar de forma sútil a tristeza e o desespero do protagonista, Solomon Northup (Chiwetel Ejiofor), mas sem soar pedante e clamando para que o espectador chore. O diretor sabe que as lágrimas são inevitáveis com a conclusão do longa, portanto ele procura expor o drama de maneira simples e respeitoso, afinal, o filme é baseado em uma autobiografia de Solomon, que, apesar de ser um negro liberto à época, foi escravizado irregularmente por 12 anos. McQueen não perde tempo com firulas cinematográficas e se dedica a contar a história desse bravo homem negro, utilizando o melhor recurso que um diretor de cinema precisa ter, e que anda em falta em Hollywood - sensibilidade. O filme pode parecer um pouco lento em sua primeira metade, mas o roteiro está montando com cuidado a devastação emocional que estar por vir.

É preciso louvar as atuações de Chiwetel Ejiofor, Lupita Nyong'o e do colaborador habitual do diretor, Michael Fassbender. O trio tem um trabalho espetacular e gostaria que fossem lembrados nas premiações. Gostei muito da maneira como a trilha sonora de Hans Zimmer ambienta esse cenário triste e doloroso. Nada muito chamativo, mas tocou-me a trilha.

Só espero que 12 Anos de Escravidão não fique esquecido como o interessante Amistad.  O longa é uma obra essencial, talvez uma das melhores realizadas no cinema sobre a escravidão. Steve McQueen, cujo nome só lembrava o ótimo e falecido ator de Fugindo do Inferno, agora terá seu trabalho reconhecido e fico feliz, que a partir desse filme, muitos cinéfilos procurem suas obras anteriores, que são igualmente contundentes. O tema escravidão é uma ferida de chibata que até hoje não cicatrizou direito, e ainda bem, que filmes como 12 Anos de Escravidão jogam uma bebida ardente sobre ela, evitando que a esqueçamos.



12 Anos de Escravidão (12 Years a Slave - 2013)
Direção: Steve McQueen
http://www.imdb.com/title/tt2024544/

Gilvan Marçal - gilvan@gmail.com
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