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Clube de Compras Dallas

O estupendo filme do diretor Jean-Marc Vallée, Clube de Compras Dallas, talvez será lembrado muito mais pelas atuações e as transformações físicas de Matthew McConaughey e Jared Leto, do que pelo debate proposto pelo longa: quanta pessoas morreram em consequência da AIDS até que as indústrias farmacêuticas e os órgãos de regulação da saúde entendessem que essa doença não daria o lucro que eles estimavam? Apesar de ambientado a quase 30 anos atrás, em 1985, ainda temos hoje enfermidades que precisam ser discutidas e tratadas de forma mais humana pelo mundo, mas que, infelizmente, não são.

O cowboy magricelo vivido por Matthew McConaughey é espetacular. Mas a transformação física dele não serve para assombrar o espectador e mostrar como o ator foi corajoso ao se submeter a isso. Com o andamento do longa o espectador já não vê mais o ator, apenas o personagem. Ron, um cowboy machão que percebe que sua magreza excessiva, na verdade, é reflexo da AIDS, que já devasta seu organismo há algum tempo. É uma transformação física semelhante ao de Christian Bale em O Operário, contudo, com uma força narrativa muito mais contundente.

O agora rockstar da banda 30 Seconds to Mars, Jared Leto (Réquiem para um Sonho), que sempre foi um ótimo ator, voltou para as telonas chutando a porta de Hollywood. Perceba a delicadeza na voz e nos trejeitos da travesti que ele interpreta. Na cena em que ele aparece vestido de homem, fica muito claro, graças ao talento de Leto, que a feminilidade da personagem não está nas roupas, mas em sua personalidade. A junção dessas duas admiráveis atuações faz com que o debate proposto pelo longa fique ainda mais forte e consistente.

Há inúmeros filmes sobre AIDS, em que destaco o mais famoso Filadélfia e a mini série Angels in América, mas Clube de Compras Dallas mostra duas facetas ainda pouco exploradas: a questão farmacológica e o tratamento da doença, que ainda suscita muitas controvérsias, afinal o Brasil teve que quebrar a patente para  produzir o coquetel e distribuir gratuitamente para portadores da síndrome; o outro ponto é a quebra do paradigma da década de 1980, em que a AIDS era uma praga que só atingia gays (praga gay) e viciados em drogas injetáveis. A maneira com que o roteiro trata os dois temas, sobretudo o segundo, é formidável.

Até chegarmos ao contexto atual, com o coquetel de remédios, a AIDS ceifou milhares de pessoas pelo mundo. É um tema que ainda necessita de mais estudos científicos e debate social, como esse proposto pelo longa. Ron Woodroof foi diagnosticado e condenado a apenas 30 dias de vida, mas contrariando, incomodou por mais sete anos. Incomodo tão estridente que culminou nesse ótimo Clube de Compras Dallas, um dos melhores filmes sobre AIDS já realizado. Se em sete anos ele fez isso tudo, me pergunto: e se ele tivesse conseguido ficar por mais tempo e usufruir dos benefícios oferecidos pelo coquetel, que hoje, mantém um portador da síndrome da imunodeficiência adquirida vivendo normalmente? Entretetanto, a pergunta mais dolorosa do filme é: o que você portador, que usufrui desses medicamentos, está fazendo com essa grande oportunidade que tem? Não sei de vocês, mas Clube de Compras Dallas balançou o meu mundo e é isso que busco no cinema - sair diferente após algumas horas dedicado a um filme. Veja a elegância narrativa que conecta o início e o fim do filme numa arena de rodeio. Ou seja, a vida é assim. Você monta no touro e pode sair vivo e feliz após 8 segundos, ou pode cair e levar uma chifrada do animal.



Clube de Compras Dallas (Dallas Buyers Club - 2013)
Direção: Jean-Marc Vallée
http://www.imdb.com/title/tt0790636/

Gilvan Marçal - gilvan@gmail.com
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