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Noé

Após a exibição de Noé, fiquei imaginando o que teria levado um renomado diretor como Darren Aronofsky (Cisne Negro, Fonte da Vida e Réquiem para um Sonho) optar por realizar uma adaptação bíblica. A resposta é bem simples. Aronofsky é um sujeito corajoso e se dispôs ao risco de levar  as telonas uma leitura intrigante, inteligente e além de tudo, comercialmente viável em tempo de cinema blockbuster, da história da Arca de Noé. Aronofsky deu a cara a tapa, mexendo no vespeiro chamado religião, e quem deu a outra face foi o espectador. Eu não me lembro de ter visto um filme bíblico tão envolvente e satisfatório como Noé.

O grande problema de contar uma história bíblica é que todos já sabem o enredo e como termina. Trazer frescor e liberdade poética para essas histórias nem sempre é bem aceito pelo público, vide Jesus Cristo Superstar. O grande acerto do longa está no roteiro, que dosa com propriedade as angustias e dilemas de Noé e sua família, e contrapõe toda essa visão celestial da história com a posição humana, muito bem executada por Ray Winstone, como o vilão Tubal-cain. Há praticamente o embate entre aquele que crê e aquele não crê. Crentes versus ateus, religião versus ciência. Aronofsky conduz esse embate de maneira elegante e convidando o espectador a refletir sobre essa antiga e importante história.

Claro que nem tudo é uma maravilha, afinal, para se realizar um "filmão" dessa proporções em Hollywood é preciso fazer concessões. Noé é um filme catástrofe para as grandes massas e que, graças ao ótimo diretor, tem reflexões pertinentes. Convenhamos, isso é quase um milagre em Hollywood atualmente. Ou seja, Amém. Gostei muito da presença dos guardiões no filme, o que pode soar uma blasfêmia para os mais ortodoxos. Achei inventivo e poético. Afinal, como um homem e sua família construiria uma arca gigantesca para carregar um casal de cada espécie de animal do planeta sem uma ajuda um tanto sobrenatural? Ou você acredita que as pirâmides do Egito, com aquelas pedras gigantescas, foram construídas só pelos escravos judeus da época? Ah, deixa disso.

O longa que já caminhava bem, possui uma conclusão muito acima do esperado. Todos os dilemas dos personagens são elevados ao máximo, cuja a carga dramática fisga o espectador. O pastor Aronofsky nos convida para o seu sermão sobre o feito de Noé e, independente se a história foi ou não real, aquilo tudo tem o objetivo de nos fazer repensar sobre o que somos e o que fazemos aqui. No fundo, no fundo, somos consequências das nossas escolhas. Olha a elegância com que o filme toca a questão do livre arbítrio e como as escolhas, boas e más, trazem consequências. As vezes irreparáveis. Até a cegueira religiosa de Noé pode ser avaliada como as crenças fundamentalistas que temos pelo mundo, matando em nome de Deus. Talvez o Criador, conforme o livro do Gênesis, não seja esse genocida cruel que exterminou parte da humanidade com um dilúvio. Talvez aquela chuva toda ia cair mesmo, e as pessoas não se preparam devidamente para ela. Escolhas ruins. Se a Bíblia pode render boas histórias como a contada por Aronofsky em Noé, talvez tenhamos que escolher melhor quem as conte. Viu, é tudo questão de escolha.



Noé (Noah - 2014)
Direção:  Darren Aronofsky
http://www.imdb.com/title/tt1959490/

Gilvan Marçal - gilvan@gmail.com
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