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Robocop

É difícil para um diretor fora do esquemão americano conseguir um lugar ao sol dentro da indústria hollywoodiana. José Padilha (Tropa de Elite 1 e 2) realizou o que a maioria dos diretores estrangeiros não consegue, estrear com o pé direito. O novo Robocop não é simplesmente um remake caça-níquel, cheio de tiros, efeitos visuais e pouco cérebro. É uma releitura atualizada e politizada sobre o que entendemos por segurança e até onde a tecnologia pode nos auxiliar nessa questão. O maior acerto de Padilha no longa foi tentar soar simples e eficiente. Claro, há uma ou outra alfinetadinha mais apimentada na política de segurança americana, mas se não fosse assim, não seria um filme desse inquieto diretor.

Comparado ao original de 1987, o novo Robocop possui virtudes, como um elenco muito melhor, mas também peca em tratar determinados pontos da trama de maneira superficial, como a relação familiar de Alex Murphy e as angústias éticas do Dr. Dennett Norton (Gary Oldman). Padilha prefere nessa sua estréia perder-se um pouco na profundidade da história, mas entregar um filme dinâmico e que seja degustado de modo mais tranquilo pelo espectador médio de cinema. Ou seja, Robocop acerta aqui e escorrega ali, mas ainda assim é um filme de ação agradável. Analisado como um recomeço (reboot) de uma franquia, o longa acerta em cheio.

Destaca-se o sempre eficiente Samuel L. Jackson, como o apresentador sensacionalista, quase lobista, Pat Novak. É por meio desse personagem que o roteiro alfineta a política de segurança mundial americana, que já se nota na primeira sequência do filme. Outro que tudo que faz soa esplêndido, e aqui não é diferente, é Gary Oldman, como Dr. Dennett. A personagem do doutor tem uma grande importância para a trama e, ainda bem, que escalaram Oldman. Com outro ator talvez o resultado não fosse tão satisfatório. Contudo, outros personagens ficam um tanto à margem, como a esposa e o parceiro de Alex, e o principal problema do filme, o fraco antagonista, o vilão sem graça vivido por Michael Keaton, como o CEO da OmniCorp, Raymond Sellars. Fica óbvio demais o foco mercadológico de Sellars é que ele será o verdadeiro bandido do filme. Contudo, gostei da ideia de Alex lutar internamente contra uma diretriz da máquina para puxar o gatilho.

O novo Robocop está longe de ser grande filme de ação e, mesmo as alfinetadas políticas, estão bem aquém do potencial de Padilha. Ainda assim, o filme funciona e deve dar início a uma nova franquia. Em Hollywood isso basta. Para Padilha foi um passo firme e importante dentro do maior mercado de cinema do planeta. Agora é saber quais são os próximos passos. É importante lembrar que Fernando Meireles (Cidade de Deus) estreou ainda melhor em terras gringas, com o ótimo O Jardineiro Fiel, deslizou no subestimado Ensaio Sobre a Cegueira e quase ninguém viu ou sabe que existe 360. Em Hollywood ninguém dá a mínima se o filme anterior foi um sucesso. O importante é que o próximo continue um sucesso, ou seja, que dê lucro ou renda Oscars. É uma maneira bem cruel de ver o cinema, mas é assim, meio humano, meio robotizado.



Robocop (2014)
Direção: José Padilha
http://www.imdb.com/title/tt1234721/

Gilvan Marçal - gilvan@gmail.com
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