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James Brown

O poderoso chefão do soul, James Brown, ganhou uma cinebiografia que reflete muito bem a sua vida: uma obra invocada, arrogante ao apenas mitificá-lo, mas ainda assim, não há como se render ao talento desse sujeito, que transborda aos olhos, aos ouvidos e faz tremular o esqueleto. Dirigido com competência e lampejos geniais por Tate Taylor (Histórias Cruzadas) o longa é um voo rápido dê 139 minutos por uma carreira arrebatadora de 50 anos de um dos artistas mais influentes da história da música mundial. Convenhamos, tarefa árdua consegui sintetizar isso. No entanto, temos um filme petulante e talvez mal compreendido, ou seja, a cara do seu biografado.

Apoiado em ótimo elenco, o filme é sustentado pelo gigantesco talento de Chadwick Boseman, que interpreta Brown, no modo atuação espiritual. Você deve se lembrar de algo semelhante de Jamie Foxx, em Ray. Boseman, que vive o rei do soul durante toda a fase adulta do cantor, inclusive mais velho, incorpora com graça as nuances e mostra ao espectador como aquele negão topetudo redefiniu o conceito de showman. Deve ter sido um trabalho gigantesco aprender dançar como ele. Esforço esse que deveria colocar Boseman, merecidamente, nas listas de premiações.

A direção de Tate Taylor é elegantíssima ao encantar o espectador, gradativamente, com pequenas peças sobre a vida de Brown, que ainda dá-se ao luxo de olhar para a câmera, encarar o espectador, e fazer algumas ponderações importantes ao longo do filme. Em uma determinada cena, esse recurso de Brown olhar diretamente para o espectador, transmite a vergonha do protagonista diante do ato que acabara de ter. Não é preciso esfregar no rosto do público que Brown estava longe de ser o homem perfeito que ele mesmo achava que era. Bastou só aquela olhadela para a câmera. Simples, elegante e eficaz. Apesar do roteiro não aprofundar algumas partes da vida do cantor, sobretudo a pessoal, e transitar mais no mito por trás do homem, o bom roteiro dos irmãos Butterworth (que já elogiei nessa temporada pela adaptação de No Limite do Amanhã) consegue captar a essência genial e geniosa desse artista que mudou a maneira como ouvimos e dançamos música.

James Brown é bom filme para essa nova mulecada, que adora RAP e o ar de ostentação, entender de onde veio uma parte fundamental desse som e a atitude. Mesmo os fãs sairão sorridentes do cinema, tentando achar aquele CD ou MP3 de suas obras primas para dar play no carro ou no MP3 player. A vida de Brown merece outras revisitas e torço para que sejam feitas. Apesar da pouca instrução, Brown usou o que tinha, excessiva confiança em si mesmo, para chegar onde queria. Talvez muitas pessoas não gostam ou não gostaram da forma com que ele trilhou. Mas como está escrito em Alice no País da Maravilhas, "Se você não sabe onde ir, qualquer caminho lhe serve". E você leitor, onde você quer chegar? Assista James Brown e tente distinguir arrogância de confiança. Até hoje eu não sei em qual das duas o Senhor Dinamite se enquadra, mas sei que os anos passam e continuo dançando como ele. Arrastando o pé direito no solo, puxando o corpo para trás, olhando para a garota e dizendo: Stay on the scene, like a sex machine.



James Brown (Get on Up - 2014)
Direção: Tate Taylor
http://www.imdb.com/title/tt2473602/

Gilvan Marçal - gilvan@gmail.com
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