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Os Oito Odiados


Tarantino consegue em Os Oito Odiados uma espécie de western gore exploitation, com aquela verborragia típicas em suas obras, além de muito sangue e cabeças estourando. Quem me conhece sabe que aprecio esse tipo de cinema "B" e o competente diretor executa com o primor técnico que lhe é peculiar. Ainda assim durante os letreiros finais perguntei a mim mesmo: Eu poderia viver, normalmente, sem ter visto Os Oito Odiados? O que me entristece é saber que a resposta é sim.

Não vou aqui discutir os ricos e lindos elementos estéticos que Tarantino domina e sabe como poucos usar. Grande parte do filme acontece em um ambiente fechado, assim como no genial Cães de Aluguel. Aqui o diretor viabiliza visualmente tudo que não conseguiu em Cães, sobretudo por que agora tem todos os recursos imagináveis disponíveis, incluindo rodar em 70 milímetros. A riqueza visual, que já começa nas exuberantes cenas na nevasca e se amplia no maravilhoso designer de produção da cabana, não é acompanhada de uma grande história. É uma história interessante e instigante, mas ela nunca chega onde um sujeito com o talento de Tarantino poderia levá-la.

O ponto forte de Tarantino, os roteiros, tem sido o calcanhar de Aquiles em suas últimas obras. É tudo muito bacana, bem feito e cult, mas não é avassalador. Presumo que o diretor não se leva tanto a sério e brinca em seus filmes, o que traz um frescor legal e talvez ele não queira mesmo fazer filmes tão sérios. Eu gosto disso, mas se torna um problema quando algumas pessoas enxergam em Os Bastardos Inglórios e Django Livre obras primas, só por serem assinadas por Tarantino. O último grande filme dele foi Kill Bill: Volume 1, digo, meio filme, pois o Volume 2 é bem bobo e faz a média da produção cair. Os Oito Odiados segue essa linha mediana, sem grande assombro, mas com detalhes interessantes.

Ao contrário do que se imagina, não é na violência hard de cabeças explodindo e tiros nos testículos que Os Oito Odiados nos choca, mas sim na maneira como trata as diferenças de personalidades entre os oito sujeitos dentro da cabana. Ops, na verdade são nove (não sei pra que colocar o cocheiro dentro da cabana). Há uma camada de crítica social interessante envolvendo o período pós-Guerra Civil Americana, em que permanece a rivalidade entre os sulistas e a União, o forte racismo que ainda açoita a sociedade e a violência contra mulher. No momento mais brilhante do roteiro temos uma carta do presidente Abraham Lincoln, que é usada para sintetizar o estado de apodrecimento da sociedade americana naquela época. Tarantino é talentoso, veja a cena final, cheia de simbolismo. O problema é que sintetizar isso tudo nos longos 187 minutos da produção não é um trabalho fácil e por vezes acabou soando chato. Sorte a do espectador que temos Samuel L. Jackson e a louca Jennifer Jason Leigh para nos guiar e entreter nesse meio tempo.

Um dos maiores problemas do filme é justamente a questão primordial do roteiro: por que e o que querem esses oito filhos da puta presos numa cabana? A resposta é simples e do jeito que adoro, mas a execução não é tão boa. Não vou dar spoilers, mas pra que existe o personagem de Channing Tatum no filme? O roteiro começa a se perder quanto não tem o foco bem direcionado para os tais oito que deveríamos odiar. Eu não vi tantos motivos para odiar Bob (Demian Bichir), Oswaldo Mobray (Tim Roth) e Joe Gage (Michael Madsen), justamente as peças chaves do grande evento da cabana. A violência e o sangue escorrem na tela de Os Oito Odiados, mas falta aquela elegância ácida e torturante que vimos em Cães de Aluguel, como na dancinha sacana de Mr. Blonde (Michael Madsen) antes de arrancar uma orelha. Matar é fácil no cinema, a questão é como transformar essa morte em algo surreal.

Os Oito Odiados recebe um tom bem crítico nessa resenha, mas é um bom filme, embora fique aquém do notado talento que Tarantino possui. Como disse acima, ele não deve se levar tão a sério e talvez, não deveria mesmo. Eu só acho que ele poderia ser mais. Sei que Tarantino será um cultuado diretor durantes anos, mesmo após sua morte. Mas gostaria de lembrar dele menos por ser um diretor bacana, descolado e com filmes estranhos, e mais pelo impacto de suas obras na minha vida. A aposta que fiz nele em Pulp Fiction, infelizmente, não se concretizou [ainda].



Os Oito Odiados (2015)
Direção: Quentin Tarantino
http://www.imdb.com/title/tt3460252/

  Gilvan Marçal - gilvan@gmail.com
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